O aspecto gramatical na língua polaca

Em geral há dois tipos de problemas, que podemos encontrar ao aprender alguma língua. Ambos resultam do mesmo: da especificidade do sistema linguístico, que já conhecemos. Contudo diferem entre si à escala em que eles aparecem. A primeira escala pode ser chamada “local”. Por exemplo: o maior problema dos alemães é a fonética polaca; os etíopes não têm quase nenhum problema com a fonética, mas muitas vezes é difícil para eles agarrar o conceito total da construção da frase; os russos estão a lutar com falsos amigos e calques. Isso é uma generalização – sempre se vai encontrar alguém que será uma exceção. A segunda escala é antes “global” e refere-se às questões populares na maioria dos estudantes da língua polaca. Estes são, entre outros, os números, a declinação e o aspecto gramatical.

Já escrevi sobre os números (link) e a declinação (link). Desta vez o que me interessa é o aspecto, uma maldição para os estudantes estrangeiros e uma pura beleza para os nativos. Porquê beleza? Porque o aspecto dá várias possibilidades de jogar com as palavras, no sentidos delas e da forma de toda a frase.


O aspecto em polaco – teoria...
Muitos séculos atrás para falar sobre passado usava-se em polaco 4 tempos: simples e complexos, perfeitos e imperfeitos. Mas esta situação mudou-se rapidamente e nós podemos observá-la apenas nas obras mais antigas da língua polaca. O aspecto tinha “vindo”, ao trocar os velhos tempos e determinou as nossas mentes a mudar também a maneira de falar sobre ações. Era uma das maiores mudanças nas línguas eslavas em toda a sua historia. 

O conceito de aspecto é, em teoria, fácil. Usamos dois tipos de verbos: ou perfeitos, ou imperfeitos. Verbos perfeitos são utilizados quando falamos sobre passado ou futuro e significam uma ação feita, terminada. Verbos imperfeitos mostram uma ação que continua, que está in statu nascendi. 

Exemplos dos verbos przeczytać e czytać

– Wczoraj przeczytałem książkę. – Ontem li um livro.
– Jutro przeczytam książkę. – Amanhã lerei um livro (até ao fim).

– Wczoraj czytałem książkę. – Ontem estava a ler um livro.
– Dziś czytam książkę. – Hoje estou a ler um livro. 
– Jutro będę czytać // czytał(a) książkę. – Amanhã vou ler um livro (talvez só uma página, talvez noventa). 


...e prática
Em prática aparecem muitos problemas, mas dois deles são os mais típicos.

  • 1. Os polacos substituem formas perfeitas com imperfeitas quando falam sobre o futuro.

Sim. Eu própria as vezes esqueço-me de ser „correta” e uso construções imperfeitas do futuro em vez de perfeitas, mesmo que queira apontar uma ação finalizada: Jutro będę robiła obiad (em vez de zrobię). Jutro będę szła do dentysty (em vez de pójdę). Desta forma não consigo precisar suficientemente bem o sentido das minhas palavras e deixo a compreensão delas para o contexto mais amplo no qual elas foram ditas. Não sei porque no futuro as formas imperfeitas são tão comuns. Posso só suspeitar – o futuro jamais é certo, então é mais seguro e natural dizer que planeio estar a fazer alguma coisa do que com certeza fazê-la até ao fim.   

Em cima escrevi a palavra „correta” entre aspas, porque regras são uma coisa e a língua falada é outra. Portanto a linha entre estar correto ou errado é muito fina. Talvez algum dia escreva mais sobre este assunto.

  • 2. Existem dezenas de verbos perfeitos ligados a só um verbo imperfeito


Assim: pić – wypić, napić się, dopić, przepić, upić się, spić, opić... E cada um deles tem outro sentido e é utilizado no outro contexto. 
Isso é o pior. Não, desculpa. Ainda pior é que (aqui estou a responder à pergunta mais comum dos meus alunos), infelizmente, não conheço nenhum livro nem dicionário que acumularia todos estes verbos. Uma das culpas pode ser simples – possibilidades de construir verbos perfeitos em polaco são... quase infinitas.  


Como se aprender este monte de verbos perfeitos?  
Tal como se come um elefante. Conhecem esta receita? Para comer um elefante precisa-se de comê-lo peça por peça. Então a melhor solução é começar desde início, ou de pares de verbos que são chamadas “pary aspektowe” – pares aspectuais. 

Os exemplos de pares aspectuais podem ser: a) com prefixo numa forma perfeita czytać – przeczytać, pisać – napisać, robić – zrobić, jeść – zjeść, pić – wypić, b) com infixo  numa forma imperfeita dawać – dać, kupować – kupić, c) formas diferentes dos verbos brać – wziąć etc. Vale a pena usá-las tantas vezes quantas se precisarem para ficar fluente nisso.

Depois seria bom aprender prefixos mais comuns e os sentidos que eles têm quando se os adiciona aos verbos. Por exemplo: wy- em verbos como wyjść, wynieść, wypaść, wylać etc. mostra uma direção/um sentido “mover fora”; do- em verbos como dopisać, dopić, doczytać, dopowiedzieć significa “finalizar pelo adicionar algum movimento” etc. Há excepções, nem tudo é tão obvio, um prefixo pode dar mais do que só um sentido e perder-se nisso tudo é muito fácil. Mas conhecer formas perfeitas mais complexas e exigentes do que só pares aspectuais mostra o nível muito avançado do polaco. Não existe outra solução para sabê-los do que ouvir, falar, ler e não ter medo de tentar construir estes tipos de verbos sem parar. 


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