12º postal – À boleia

Escrito por 26.9.17

É uma forma de viajar muito simples. Basta ficar ao lado de estrada, ter confiança noutra pessoa e tentar apanhar o carro que está a passar. Ainda vale a pena conseguir comunicar minimamente.

Lembro-me muito bem de um guia turístico da Turquia: o livro grosso, cheio de imagens e informações sobre comida turca, que incluía também um dicionário polaco-turco. Era muito pesado – este facto importava-nos porque viajamos durante cinco semanas com todas as nossas coisas às costas. Felizmente, rapidamente descobrimos que o dicionário é fantástico para aqueles que descansam à beira mar nos resorts, não para nós, e pudemos rejeitá-lo com alívio. Infelizmente, tivemos que coletar palavras úteis para a nossa viagem mais uma vez. 

Desde então, quando vou para qualquer lugar só à boleia, preparo sempre uma lista de frases úteis para esta forma de movimento, como: Vamos de... a...; É grátis?; Podemos acampar aqui?; Temos a tenda; Somos polacos; Sou professora; Turquia, Armênia, Georgia, Portugal, (outro país)... é lindo!, numerais e outras palavras como sim, não, ontem, hoje, amanhã, dia, semana, dormir, comer, visitar. Apesar disso, sempre, sei dizer bom dia, obrigada e adeus. 

Não se precisa de muito, mas o conhecimento pelo menos de 10 palavras não apenas pode ajudar, mas também passar o tempo agradavelmente.

O aspecto gramatical na língua polaca

Escrito por 22.9.17
Em geral há dois tipos de problemas, que podemos encontrar ao aprender alguma língua. Ambos resultam do mesmo: da especificidade do sistema linguístico, que já conhecemos. Contudo diferem entre si à escala em que eles aparecem. A primeira escala pode ser chamada “local”. Por exemplo: o maior problema dos alemães é a fonética polaca; os etíopes não têm quase nenhum problema com a fonética, mas muitas vezes é difícil para eles agarrar o conceito total da construção da frase; os russos estão a lutar com falsos amigos e calques. Isso é uma generalização – sempre se vai encontrar alguém que será uma exceção. A segunda escala é antes “global” e refere-se às questões populares na maioria dos estudantes da língua polaca. Estes são, entre outros, os números, a declinação e o aspecto gramatical.

Já escrevi sobre os números (link) e a declinação (link). Desta vez o que me interessa é o aspecto, uma maldição para os estudantes estrangeiros e uma pura beleza para os nativos. Porquê beleza? Porque o aspecto dá várias possibilidades de jogar com as palavras, no sentidos delas e da forma de toda a frase.


O aspecto em polaco – teoria...
Muitos séculos atrás para falar sobre passado usava-se em polaco 4 tempos: simples e complexos, perfeitos e imperfeitos. Mas esta situação mudou-se rapidamente e nós podemos observá-la apenas nas obras mais antigas da língua polaca. O aspecto tinha “vindo”, ao trocar os velhos tempos e determinou as nossas mentes a mudar também a maneira de falar sobre ações. Era uma das maiores mudanças nas línguas eslavas em toda a sua historia. 

O conceito de aspecto é, em teoria, fácil. Usamos dois tipos de verbos: ou perfeitos, ou imperfeitos. Verbos perfeitos são utilizados quando falamos sobre passado ou futuro e significam uma ação feita, terminada. Verbos imperfeitos mostram uma ação que continua, que está in statu nascendi. 

Exemplos dos verbos przeczytać e czytać

– Wczoraj przeczytałem książkę. – Ontem li um livro.
– Jutro przeczytam książkę. – Amanhã lerei um livro (até ao fim).

– Wczoraj czytałem książkę. – Ontem estava a ler um livro.
– Dziś czytam książkę. – Hoje estou a ler um livro. 
– Jutro będę czytać // czytał(a) książkę. – Amanhã vou ler um livro (talvez só uma página, talvez noventa). 


...e prática
Em prática aparecem muitos problemas, mas dois deles são os mais típicos.

  • 1. Os polacos substituem formas perfeitas com imperfeitas quando falam sobre o futuro.

Sim. Eu própria as vezes esqueço-me de ser „correta” e uso construções imperfeitas do futuro em vez de perfeitas, mesmo que queira apontar uma ação finalizada: Jutro będę robiła obiad (em vez de zrobię). Jutro będę szła do dentysty (em vez de pójdę). Desta forma não consigo precisar suficientemente bem o sentido das minhas palavras e deixo a compreensão delas para o contexto mais amplo no qual elas foram ditas. Não sei porque no futuro as formas imperfeitas são tão comuns. Posso só suspeitar – o futuro jamais é certo, então é mais seguro e natural dizer que planeio estar a fazer alguma coisa do que com certeza fazê-la até ao fim.   

Em cima escrevi a palavra „correta” entre aspas, porque regras são uma coisa e a língua falada é outra. Portanto a linha entre estar correto ou errado é muito fina. Talvez algum dia escreva mais sobre este assunto.

  • 2. Existem dezenas de verbos perfeitos ligados a só um verbo imperfeito


Assim: pić – wypić, napić się, dopić, przepić, upić się, spić, opić... E cada um deles tem outro sentido e é utilizado no outro contexto. 
Isso é o pior. Não, desculpa. Ainda pior é que (aqui estou a responder à pergunta mais comum dos meus alunos), infelizmente, não conheço nenhum livro nem dicionário que acumularia todos estes verbos. Uma das culpas pode ser simples – possibilidades de construir verbos perfeitos em polaco são... quase infinitas.  


Como se aprender este monte de verbos perfeitos?  
Tal como se come um elefante. Conhecem esta receita? Para comer um elefante precisa-se de comê-lo peça por peça. Então a melhor solução é começar desde início, ou de pares de verbos que são chamadas “pary aspektowe” – pares aspectuais. 

Os exemplos de pares aspectuais podem ser: a) com prefixo numa forma perfeita czytać – przeczytać, pisać – napisać, robić – zrobić, jeść – zjeść, pić – wypić, b) com infixo  numa forma imperfeita dawać – dać, kupować – kupić, c) formas diferentes dos verbos brać – wziąć etc. Vale a pena usá-las tantas vezes quantas se precisarem para ficar fluente nisso.

Depois seria bom aprender prefixos mais comuns e os sentidos que eles têm quando se os adiciona aos verbos. Por exemplo: wy- em verbos como wyjść, wynieść, wypaść, wylać etc. mostra uma direção/um sentido “mover fora”; do- em verbos como dopisać, dopić, doczytać, dopowiedzieć significa “finalizar pelo adicionar algum movimento” etc. Há excepções, nem tudo é tão obvio, um prefixo pode dar mais do que só um sentido e perder-se nisso tudo é muito fácil. Mas conhecer formas perfeitas mais complexas e exigentes do que só pares aspectuais mostra o nível muito avançado do polaco. Não existe outra solução para sabê-los do que ouvir, falar, ler e não ter medo de tentar construir estes tipos de verbos sem parar. 


O bem sempre ganha [exercício de livro]

Escrito por 7.9.17
Estou a trabalhar para enriquecer o vocabulário português e utilizar mais do que dois tempos do indicativo. Portanto as vezes vou publicar textos pouco espertos, mas concentrados num concreto problema linguístico.
Abaixo uma história com uso das expressões idiomáticas que contêm alguma parte de corpo na sua estrutura.


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Era uma vez uma menina bonita, a Madalena. Morava numa cidade grande, exatamente a mesma em que quase ninguém conhece até o seu vizinho mais próximo. Vivia a vida normal: era uma estudante na universidade local e, às tardes, trabalhava num restaurante italiano como a empregada de mesa. Mesmo que não fosse uma pessoa que fala pelos cotovelos, ela prestava atenção a si. Era devido aos seus grandes olhos verdes, que pareciam dizer: Nunca, nunca dou com a língua nos dentes, podem confiar em mim. Portanto todos os clientes do restaurante gostavam mesmo de ser servidos por ela, a saber que a menina não vai fazer ouvidos de mercados, sobre o que eles falam. Apesar de estar muito ocupada, a Madalena sempre conseguia ouvi-los e responder-lhes agradavelmente.

O dono de restaurante apreciava a sua atitude e, como não era unha de fome, pagava-lhe  mais do que aos outros empregados. O que é muito fácil de deduzir, rapidamente os outros começam a ter dor de cotovelo por isso. Um bom exemplo podia ser a melhor amiga da Madalena, que se chamava Alice. Não era menos bonita, mas o olhar dela era muito mais frio e inacessível. Desde o dia quando a Alice tinha descoberto qual era o salário da Madalena, não pregava olho a pensar o que ela poderia fazer para o dono de restaurante ficar de pé atrás com a sua amiga. 

Vale a pena lembrar duma verdade triste: quando o nosso grande amigo mete o nariz na nossa vida, não podemos dormir calmamente a pensar que temos as costas quentes no trabalho. O perigo vem do lado o menos previsível...  

Uma manhã a Alice tinha decidido fingir que a Madalena roubou o dinheiro da caixa do restaurante e depois, a rir-se maliciosamente, saiu de casa. 

Era cedo, o restaurante ainda estava vazio. Mas a caixa – cheia do lucro de ontem. A Alice não quis perder o tempo. Em breve tirou todo o dinheiro e começou a colocá-los na mala da Madalena. Infelizmente para ela, não reparou que um cliente que já tinha a barriga a dar horas, entrou na cozinha e viu tudo. Ainda pior, foi o seu próprio namorado! Em seguida, a Madalena também apareceu na cozinha. E embora a Alice tenha dado o braço a torcer, ninguém acreditou nela. Desta maneira perdeu a amiga, e o namorado. E o trabalho!  

11º postal – Estrada Transfăgărășan

Escrito por 5.9.17

Romênia, setembro 2015

Foi constrúida no 1974 ano e passa entre Moldovenau e Negoiu, as duas montanhas mais altas da Romênia. O topo da Estrada Transfăgărășan fica nos 2034 metros, o que faz dela a segunda mais alta estrada asfalta neste país. Lá está localizado o túnel mais longo da Romênia. Mas há mais factos encorajadores para visitar este lugar e andar de bicicleta 90 km de curvas. 

A Estrada Transfăgărășan é chamada uma das mais bonitas estradas do mundo. E, na verdade, é. Andar para cima de bicicleta é a melhor forma de admirar a paisagem. Sobe-se durante tanto tempo (especialmente com os alforges com todo o equipamento de duas semanas), que não dá para apreciar a beleza dela. Vai-se um ou dois dias – dependente da condição física e do tempo. Nós tivemos que ficar no topo durante a noite (há lá 4 abrigos) por causa da tempestade. Valeu a pena fazer uma pausa. As vistas depois da chuva foram inesquecível.
Um conselho: a Estrada Transfăgărășan é muito popular, também entre motociclistas, especialmente durante os fins de semana. Portanto vale a pena planear ir lá num dia que não seja o sábado ou domingo. 

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