A declinação. Quem a inventou e porquê?

Escrito por 28.8.17
Não sei quem exatamente. Os pesquisadores consideram que já a língua indo-europeia era uma língua flexionada, o que significaria que o culpado andava pelo mundo até há cerca de 5000 anos atrás. No entanto, aqueles que aprendem polaco e não têm a origem eslava ficam nervosos por muitas vezes por causa da declinação, a perguntar “porquê?”. Por que se declinam substantivos, adjetivos, numerais, pronomes? Para quê tudo isso, todas as formas – sete casos no singular e plural um conjunto de catorze – de uma só palavra? 

A coisa é mais comum do que se pensa
Tenho de desapontar todos os que pensam que o polaco é uma língua especial, mais difícil do que as outras ou mais complicada. Sim, claro, para mim – polaca – é especial. Faz parte da minha identidade nacional, da minha vida mental e profissional. Contudo a declinação nela não é extraordinária, nem única. Ocorre em muitas outras línguas, também em português, em que persistem várias formas de pronomes. É uma herança do latim, para qual hoje em dia não se presta a grande atenção, porque é, em primeiro lugar, uma parte pequena de todo o sistema da língua portuguesa. Além disso, em geral, é muito fácil para aprender. Com o polaco a situação é diferente. A declinação domina nesta língua e pode ser chamada como uma „marca” dela.   

Para que serve a língua? 
Uma língua, em geral, serve para a comunicação. Para expressar necessidades e pensamentos. Evoluiu por razões práticas. A seguir, vale a pena lembrar que a gramática – por causa desta  função básica de língua – deveria servir a semântica. E normalmente serve. Portanto para sermos bem entendidos, temos que pôr em ordem todos os elementos sintáticos e morfológicos, típicos para a língua que falamos. Então o processo de comunicar é algo parecido com isto:

1. Temos uma ideia na cabeça.
2. Queremos articulá-la.
3. Escolhemos o vocabulário adequado para o nosso assunto.
4. Colocamos o vocabulário num esquema gramatical.

É obvio? Não exatamente.

A dificuldade fica na cabeça
Saber usar desinências é um conhecimento indispensável para se comunicar em polaco de uma maneira compreensível. Ignorar a gramática é possível, mas ineficaz. Por outro lado, pôr toda a sua atenção na sintaxe, concentrar-se em cada uma desinência sem lembrar da razão para usá-la, faz-nos sentir como se todas as regras foram inventadas apenas para complicar a nossa vida de estudantes. 

Vou repetir: a gramática de cada uma língua serve nós para expressarmos os nossos pensamentos. Nem mais, nem menos. Por isso temos de perceber os contextos, nos quais usamos uma ou outra estrutura, em vez de memorizar sem reflexão todas as regras escritas no livro das aulas. 

Isso pode tornar-se difícil em si mesmo devido ao hábito da estrutura da nossa língua nativa. Eu sempre tenho problemas com a conjugação em português. Não por causa da variedade dos tempos, modos e formas – teoricamente já sei bastante sobre eles. O problema fica numa lacuna no meu próprio sistema. No polaco moderno só existem três tempos no indicativo e quatro maneiras de construi-los. O meu cérebro deve fazer um trabalho enorme para se lembrar que o conjuntivo ou o qualquer tempo composto existem. Somente depois posso tentar usá-los, o que faço menos do que devia no meu discurso. Desta forma não consigo expressar tudo o que queria. 

Uma falta de elemento, duma construção na língua que se sabe bem sempre causa a dificuldade em entender e, em consequência, verbalizar um conceito novo para nós. E esta falta causa a maioria das dificuldades em aprender (portanto, todos os rankings na língua mais difícil do mundo não fazem sentido).

Enfim, porquê a declinação foi inventada?
A declinação foi inventada para especificar relações entre elementos da frase. Há línguas nas quais o sentido é ligado com a ordem da frase. Em polaco a ordem não é tão necessária – a forma de substantivo, adjetivo, numeral, pronome vai dizer-nos tudo. Ex.:

Kot zjadł ptaka tem o mesmo sentido do que Ptaka zjadł kot. (Um gato comeu um passaro.)
Kota zjadł ptak tem o mesmo sentido do que Ptak zjadł kota. (Um passaro comeu um gato...)

Mas: 
Kot zjadł ptaka é o oposto de Kota zjadł ptak.  

O importante é quem comeu quem. Depois precisa-se de saber que esta criatura que comeu, um perpetro da ação, um sujeito, fica numa forma básica – o nominativo, e esta que foi comida, um objeto direito, deve modificar a sua forma para o acusativo. 

Outros exemplos? 

O instrumentalis podemos utilizar, entre outros, quando queremos... dizer algo sobre o instrumento da acção: Piszę długopisem (Escrevo com a caneta), Myślę głową (Penso com a cabeça).
O dativus utilizamos quando queremos dizer sobre a alguém a quem algo foi dado, literalmente e metaforicamente: Dałam książkę Ali (Dei o livro a Ala), Złożyłam życzenia Markowi (Desejei tudo de melhor a Marek).
O genetivus podemos usar por exemplo quando dizemos a forma negativa da maioria dos verbos: Nie lubię pomidorów (Não gosto de tomates). Nie czytam tej książki (Não leio este livro).

Todas estas frases serão compreensível invertadas, como: Długopisem piszę., Głową myślę., Ali dałam książkę., Markowi złożyłam życzenia., Pomidorów nie lubię., Tej książki nie czytam.

Claro que nem tudo é tão claro e que nem todas as regras da declinação são muito fáceis para explicar. Há também algumas formas que dependem do verbo concreto, não do sentido da frase. Mas se língua natural fosse lógica do começo até ao fim, não seria natural. 


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