Sou feliz, estou feliz. 2 verbos em português vs. 1 verbo em polaco


– Porquê?   

É a pergunta mais comum entre os meus alunos.   

– Porque é que tenho de construir milhões de formas de só um substantivo? Na minha língua não se precisa de fazer isso.  
– Porque é que vocês, polacos, usam tantas consoantes estranhas? É impossível dizer: «W Szczebrzeszynie chrząszcz brzmi w trzcinie!» 
– Porque é que o polaco é tão difícil? [não é!]  
– Porque é que...  

– Porque.   

Mas ninguém gosta de ouvir uma resposta assim. Nem eu. Embora já tenha aprendido que as vezes é melhor não saber (e isso aplica-se não só apenas à matéria linguística), como professora sinto-me feliz, sinto-me realizada por poder dar uma boa explicação do assunto.   

Por outro lado, entendo muito bem a sede do conhecimento e da compreensão. Ademais, sei que esta sede pode tornar-se duma simples curiosidade numa verdadeira maldição: porquê? de manhã, porquê? durante o dia, porquê? antes de dormir. Acreditem, é muito mais fácil viver sem fazer perguntas. Mas eu já não consigo.   

Então, talvez algum de vocês é capaz de dizer-me porque é que os portugueses usam dois verbos: ser e estar? Não as condições do uso – já as conheço. Até sei utilizar mais ou menos.   

Mas olhem. Em polaco Sou feliz é: Jestem szczęśliwa. E estou feliz também é: Jestem szczęśliwa. Não fazemos nenhuma distinção entre ser e estar. Para nós existe só um verbo utilizado num lugar dos dois verbos portugueses. Sou polaca. Estou cansada. Sou bêbada. Estou bêbada. Para mim é sempre o mesmo: jestem.  

Quando falámos outra língua o mais difícil é utilizar estes elementos ou estas estruturas que não existem no sistema da nossa língua materna.  

Então: porquê?   

Não me digam que não podem responder. 

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